“O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO E PASCAL”
Luiz Henrique de Araújo*.
Santo Agostinho no Capítulo XI da sua obra Confissões, faz uma análise acerca do tempo, ressaltando o seu aspecto psicológico, ou seja, a maneira como nós o apreendemos, a noção do antes e do depois que as coisas gravam em nossa alma.
Segundo ele, o tempo tem início no ato criador de Deus, ou seja, quando o mundo começou a ser, a existir. No ato de falar de Deus fomos criados. Podemos comprovar isso no livro do Gênesis.
Somente quando o tempo está decorrendo é que posso percebê-lo e medí-lo, pois não se pode medir o tempo passado que já não existe ou mesmo o futuro que ainda não chegou.
Ao invés de afirmar: passado, presente e futuro, Santo Agostinho nos diz que a maneira correta de afirmar isso é: a lembrança das coisas passadas, a visão presente das coisas presentes e a esperança das coisas futuras.
O tempo para Santo Agostinho não é outra coisa senão uma distensão da alma, ou seja, é a existência do eu no tempo.
O tempo é tempo porque passa, pois senão passasse já não seria tempo, mas sim eternidade.
Se para Santo Agostinho o tempo é a distensão da alma, ou seja, é a existência do eu no tempo, pode-se perceber que o “Conheça-te a ti mesmo” socrático está presente em sua filosofia. O homem precisa voltar para o interior de si para conhecer a si mesmo. Nesta volta, ele colhe a si mesmo como um ser que, para ser ou existir, necessita do Ser Imutável (eterno), ou seja, Deus. Ora, se o homem conhece a si, sabe que sua existência depende de um ser eternamente existente, uma vez que a existência humana não pode ser causada pelo próprio homem. No interior de si e diante “Daquele que É”, ou seja, de Deus que habita o seu ser mais profundo, o homem colhe a si: diante “Daquele que É” colhe-se a si como um eu sou. Nesse instante do tempo nada antecede nem sucede o Eu. Desse modo, colhendo a si mesmo como um “eu sou” (existo), experimenta os vestígios da eternidade, pois colhe a sua existência no agora.
Portanto, no instante em que eu capto que sou (esse instante sem espaço), eu experimento a eternidade, pois somente Deus é, ele é “Aquele que É”. Este agora é vestígio da eternidade.
O tempo presente, este modo de tempo em que o homem capta a si mesmo como um eu sou, este não pode ser medido. Logo, esse tempo não pode ser medida do movimento, tal como sustenta Aristóteles, pois, posto não haver nada que suceda ao eu não há movimento algum.
Assim, pode-se sustentar que o tempo[1] presente para Santo Agostinho é vestígio da eternidade, pois o presente é atual.
Em Pascal temos dois conceitos que nos ajudam entender a sua antropologia, são eles: o Tédio e o Divertimento.
O homem antes da queda adâmica tinha uma relação amorosa com Deus, contemplava Deus face a face. Após a queda, o homem querendo igualar-se a Deus rompe esta relação amorosa.
A partir disso, surge no homem um vazio, vazio este que ele irá durante sua vida buscar preencher com muitas coisas e com um amor desmedido a si próprio.
Este amor desmedido, Pascal chama de orgulho. O orgulho faz com que o homem transforme seu amor a Deus para um amor desmedido a si mesmo.
Perdendo seu verdadeiro objeto de amor, ou seja, Deus, o homem acaba não encontrando nada que o satisfaça. Porém, o homem conserva dentro de si à vontade de conhecer e de ser feliz. Na própria alma humana há uma capacidade infinita de amar devido o seu primeiro estado, estado anterior a queda onde o homem contemplava Deus.
Portanto, para Pascal o tédio é esse retorno para si, para o interior do homem, onde ao voltar para o seu interior, este lhe mostrará suas misérias, ou seja, aquilo que ele realmente é. Dessa forma, o eu pascaliano é insuportável ao homem. Sendo este eu humano insuportável ao homem, pois ele nunca poderá estar em repouso, ele quer tudo possuir e dominar para preencher este grande vazio que se instaura em seu interior.
Para fugir do Tédio o homem cria eus imaginários. Este, sempre está se apresentando com as suas qualidades para assim se passar como se fosse um deus, sendo admirado por todos. Pois senão se apresentar com as suas qualidades não será amado e assim não estará na estima alheia, logo, cairá no tédio, visto que sua felicidade depende da estima alheia, pois o mais belo lugar do mundo para o homem pascaliano é estar na idéia do outro. É a admiração do outro que faz com que o homem esteja feliz.
Com o eu imaginário o homem trabalha incessantemente para que sua imagem esteja sempre na idéia do outro e para que a mesma não se apague. Dessa forma, o eu acaba sendo escravo da sua própria imagem.
Desse modo, pode-se perceber que o eu imaginário, subterfúgio que o homem usa para não ver o que realmente é, não quer observar e assumir suas misérias, fraquezas e imperfeições. Com isso, distante de Deus este homem nunca cessará de cair e sempre trará dentro de si a necessidade de divertir-se, pois esta é a condição necessária para fugir do tédio. Em seu interior e em seu exterior haverá uma inconstância enorme, ou seja, um momento estará no tédio e em outro no divertimento.
O presente nunca satisfazendo o homem, faz com que o mesmo fuja deste, pois se ficar neste, cairá no tédio e este é insuportável ao homem.
O divertimento, por sua vez, é uma forma privilegiada do homem desviar o olhar de si mesmo. O homem pascaliano, portanto, é aquele que se diverte, teme e se assombra com a pequena duração de sua vida e do seu pequeno lugar no espaço em comparação com a eternidade.
Segundo Pascal, é somente através do divertimento que o homem é consolado de suas misérias, porém para ele o divertimento é a maior miséria do homem, visto que no divertimento o homem deixa de considerar aquilo que ele realmente é.
É somente com o divertimento que o homem tem alegria ilusória. O homem pascaliano recusa o presente, o agora e espera viver, ser feliz em um tempo futuro. O presente e o passado são meios que ele utiliza para ser feliz num tempo futuro.
Santo Agostinho e Pascal: Aproximações.
Para Santo Agostinho, somente quando o homem capta que é (que existe), neste tempo que flui e o leva ao nada, ou seja, a morte, ele experimenta o próprio ser divino, a eternidade. Colhendo-se no agora que é vestígio da eternidade, descobrindo-se como um “eu sou”, o homem vive o seu presente experimentando a eternidade.
Já em Pascal, o homem nunca está satisfeito com o presente. Sempre está lembrando do passado e pensando no futuro, fugindo assim do presente que para ele é insuportável.
Pascal se utiliza do divertimento para fugir do presente (do agora) e se lançar no futuro, visto que este homem não suporta um repouso (tédio) e devido a isso quer estar a todo instante no divertimento, visto que esse é mais prazeroso para ele.
Em Pascal aparece o que chamamos o tempo da graça. É com o auxílio da graça divina que o homem sai do seu estado concupiscente, desse modo, é somente a graça que torna o homem verdadeiramente virtuoso. Pois a graça faz com que o homem possa se lançar na caridade. A caridade não é nada mais do que a antecipação da eternidade, uma vez que só a caridade começa nesta vida e continua na outra. Portanto, para Pascal, o homem necessita da caridade para viver o presente, pois esta faz com que o mesmo já possa experimentar ainda neste mundo a antecipação da eternidade.
Também Santo Agostinho acentua a necessidade da caridade. Para ele, a caridade é viver segundo a graça divina, ou seja, ser embebido da vida divina. Dessa forma, estando na graça o homem ama o próprio amor e, portanto, também antecipa a eternidade.
Enquanto a caridade (graça divina) faz com que o homem antecipe a eternidade nesta vida, para Santo Agostinho o homem experimenta esta mesma eternidade da seguinte maneira: no retorno a si e na ascensão do seu interior a Deus, descobrindo-se como um “eu sou” e com a graça divina: a caridade é já a vivência do que será a eternidade neste mundo de escoamento constante.
Para Santo Agostinho, somente quando o homem capta que é (que existe), neste tempo que flui e o leva ao nada, ou seja, a morte, ele experimenta o próprio ser divino, a eternidade. Colhendo-se no agora que é vestígio da eternidade, descobrindo-se como um “eu sou”, o homem vive o seu presente experimentando a eternidade.
Já em Pascal, o homem nunca está satisfeito com o presente. Sempre está lembrando do passado e pensando no futuro, fugindo assim do presente que para ele é insuportável.
Pascal se utiliza do divertimento para fugir do presente (do agora) e se lançar no futuro, visto que este homem não suporta um repouso (tédio) e devido a isso quer estar a todo instante no divertimento, visto que esse é mais prazeroso para ele.
Em Pascal aparece o que chamamos o tempo da graça. É com o auxílio da graça divina que o homem sai do seu estado concupiscente, desse modo, é somente a graça que torna o homem verdadeiramente virtuoso. Pois a graça faz com que o homem possa se lançar na caridade. A caridade não é nada mais do que a antecipação da eternidade, uma vez que só a caridade começa nesta vida e continua na outra. Portanto, para Pascal, o homem necessita da caridade para viver o presente, pois esta faz com que o mesmo já possa experimentar ainda neste mundo a antecipação da eternidade.
Também Santo Agostinho acentua a necessidade da caridade. Para ele, a caridade é viver segundo a graça divina, ou seja, ser embebido da vida divina. Dessa forma, estando na graça o homem ama o próprio amor e, portanto, também antecipa a eternidade.
Enquanto a caridade (graça divina) faz com que o homem antecipe a eternidade nesta vida, para Santo Agostinho o homem experimenta esta mesma eternidade da seguinte maneira: no retorno a si e na ascensão do seu interior a Deus, descobrindo-se como um “eu sou” e com a graça divina: a caridade é já a vivência do que será a eternidade neste mundo de escoamento constante.
[1] Como afirma Santo Agostinho: “O tempo não é apenas uma sucessão de instantes separados. É um contínuo, e, como tal, é indivisível. O tempo, para ser estudado na sua metafísica não se deve dividir no “antes” e “depois”, mas considerar-se na sua síntese de continuidade. (N. do T.).” (SANTO AGOSTINHO, 1980, p. 220)
*Luiz Henrique de Araújo - Graduando em Filosofia pela Faculdade João Paulo II.
Resumo do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado durante o I Seminário de Produção Científica da FAJOPA.